Outra trilogia, agora sobre o México

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Conheci Juan Pablo Villalobos (1973) em São Paulo, numa feira literária em 2013 em que também estava o Valter Hugo Mãe, conforme eu já disse aqui. Na época ele já tinha lançado Festa no covil e estava lançando Se vivêssemos em um lugar comum. Com Te vendo um cachorro, que eu li este ano, ele encerra sua trilogia sobre o México moderno.

Depois de ter mostrado Roberto Bolaño e o clássico Juan Rulfo escrevendo sobre o México, vale a pena olharmos a obra de um mexicano contemporâneo como Villalobos.

Os livros compõem um painel leve e bem-humorado sobre problemas sérios e profundos daquele país, que merecem e podem ser lidos com prazer.

Festa no covil (Companhia das Letras, 2012) trata de um garoto, filho de um traficante que atua na fronteira americana e que vive numa “bolha” por questões de segurança. Menino de inteligência superior, coleciona chapéus e investiga seu “reino”, onde tudo pode, menos entrar em certos quartos proibidos. Apesar do tema batido, o livro traz um enfoque original e quase divertido de lidar com a dura realidade do tráfico de drogas.

Se vivêssemos em um lugar comum (Companhia das Letras, 2013) mostra a ponta inferior da pobreza mexicana, onde um irmão a mais é menos comida para os demais, e vice-versa. Nos anos 1980, numa região semidesértica, a pequena e rústica casa de Orestes atrai a atenção de especuladores imobiliários. Uma geração mais tarde, o narrador relembra o passado e reflete o quanto teria mudado no período.

Te vendo um cachorro (Companhia das Letras, 2015) desloca a narrativa para um edifício na capital federal, onde moram divertidos personagens da terceira idade. Téo é um aposentado de 78 anos que gosta de flertar com a síndica e usar a aposentadoria para beber tranquilamente uma cerveja. A síndica mantém uma “tertúlia literária” e espalha que Téo é um famoso escritor – um exagero para quem nunca escreveu nada. Téo é um ex-“taqueiro”, especializado em tacos de carne canina – daí o título do livro se referir à oferta de matéria-prima! Com esse tipo de humor, Villalobos discute a vida dos velhos e também dos jovens, mostrando manias, vontades e desejos que só se intensificam com a idade.

A “trilogia”, na verdade, não oferece uma sequência, mas sim um mosaico do México contemporâneo, que tem semelhanças com outros países latinos, mas também singularidades que tornam a leitura instigante e agradável.

São livros fáceis de ler e cheios de informações, que eu gostei e recomendo.

Obrigado por prestigiar o Blog e até o próximo post!

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